Irei para a beira do rio ver pororoca
chegar
E gritar, lá vem, lá vem, lá vem…
E quando a maré vazar,
me lambuzar até a minha mãe chamar
E depois correr para ver avião chegar
Juntar folhetos nas ruas como quem
ganhara um prêmio
E logo mais a pelada na porta e
desafiar
Eu quero correr ruas, pular poças de
lama
E olhar para o tempo até onde a vista
der
E observar seu Bier caminhar…
Escutar o ronco do motor de seu Zé
Melo
Ouvir os meninos gritando: “é picolê,
picolê alvorada”!
Ouvir também as orvelhas de seu Dico
a berrar: Binééééé…
E gritar palhaço na rua para a porta
do circo pagar
E sentir o cheiro do bolinho de dona
Cândida a assar
Escutar João Fufu aboiar
O sax de seu Bina a me emocionar
E como nos velhos tempos, os dias de
todos os dias da minha vida
Aprender a nadar, a remar, a pescar,
a criar fantasias de menino e o mundos criar
Pular na beira do rio, dá cambalhotas
e lá do outro lado e voltar
Oh saudade boa de sentir!
Quero continuar a me lembrar da
boquinha da noite brincando de ‘peixinho moquém’
E sempre aceitar as pessoas sem se
importar com ninguém
Como nos velhos tempos, engraxar os
sapatos para ver Bom Jesus passar
Ir dar volta de bicicleta só para a
paquera impressionar
Usar calça de boca de sino e sair
para namorar
Tomar bênçãos de quarteirão a
quarteirão aos nosso velhinhos que Deus já pôs em outro lugar
Passar na Porta de Rosinha e dela me
lembrar
Lembrar também de Juca, Zé Pestana e
Azim, filhos que Zizi quis para amar
E bem lá longe a voz do locutor a
anunciar: atenção muito atenção, hoje no Estádio Santos Dumont, sensacional
partida de futebol
É hoje, é hoje: Flamengo e Sociedade
Arariense
E, assim, não esquecer de sempre
agradecer por ter vivido tudo isso e ainda me lembrar
Nilson Ericeira
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