Apartheid

É evidente que aos poucos ou apressadamente nos separamos de nós mesmos…

Não sei em qual direção sigo…

Parece que o nosso tempo não é o mesmo o de outras pessoas

Nossas convicções escondem-se em armários

Ou em prateleiras sujas e escuras de um velho e fedido armazém

Nossos laços desfazem-se

Nossa dor é muda

Nossa vós

Pensamentos absortos

Absorvidos pelo tempo e incompreensões

Ainda assim, agarramo-nos em nós mesmos

Mesmo náufragos de um tempo

À deriva e mar revolto seguimos

Na esperança de um dia nos encontrarmos com nós mesmos

Ou vertendo água após calmarias

E, ainda assim, buscamos o amor enquanto alimento do que nos sobrou

E esticamos as velas pra onde o vento der

Enquanto não me separar por completo de mim mesmo

Sou comandante e tripulante de minha nau que se chama

Vida!

Pois sei que em horas de solidão é de mim mesmo que me valho

E tenho fé que em algum porto seguro ancorarei

Mas não venha com versos, nem me relembre Camões

Nem de Dias, nem dos Gonçalves

Pois se uma vez adeus

Ou se se morre de amor

Pois do mar não me quero apartar ainda

Antes que o teu amor anuncie

Nilson Ericeira