Nu lago virgem

À beira de um lago virgem

Despido de Estado

E em estado de pobreza

Nus de cidadania

Despidos de direitos

Afugentados da justiça
Paridos de amor por Arari

Pai, filhos…

Alguns da prole

Mato verde, capo virgem,

Caturros, muriçocas, maruins, mutucas…

Lá de longe, viam-se garças

Sericoras, socós, bentivis, abutres…

Os peixinhos na maresia

E martim-pescador

No silêncio do tempo

Vento frio a quebrar costelas

Queixos trêmulos

Meninos descalços avançam

De côfo no cós

Tarrafinha matreira

Pobre homem

Futuros homens

Aos poucos íamos desvirginando o Lago

O Lago da vida

O lago da sorte,

o Lago da Morte

E já, de boia pronta

Seguem o caminho inverso

Pois sem a tripa cheia não morrem

E, no céu, aos pouco um novo dia se mostra

Apaguem a lamparina

Pois é hora de se despedir

  Nilson Ericeira