Zé ninguém

Zé ninguém
Ninguém 
Ninguém sabe
Ninguém sente
Não ouve
Não percebe
Somos uns Zés e Joões sem rumo
Marias que vão com as outras
Uma legião de indiferentes
Acreditamos no que não existe
Bestificados aplaudimos o ócio 
Ninguém percebe
Não escuta
Omite a voz do coração 
Enrijece, padece, falece…
No púlpito, exímios oradores
Fanáticos pelo discurso do nada
Acreditamos num deus sem espírito 
Falamos em ‘línguas estranhas’!
Das entranhas da nossa antivisão
E a cada dia mais e mais ninguém 
Formamos correntes de hipócritas
Ainda bem que sobram em alguns, lucidez
Por isso não somos sós
Somos uns ‘Zé ninguém’
Nilson Ericeira