O lago da vida

Ara ali no meu coração

Arari em terra fértil

Ah que amor imenso:

Teso, terra, torrão e ‘bulão’,

os sentido do meu coração

Terra cinza na canela seca a doer na alma

Pés descalços, ‘caiambuca’, rede, caniço, lamparina…

Cheiro forte de querosene

No céu, pontos de luz

No chão, rico do caminho

E bote perna, cambitas tão finas
Nem se atreviam a por ‘pelecatas’

Tão meninos ainda

Ao lado, a folhagem dava o tom

Grilos, muriçocas, caturros, cigarras…

E conversê!

Eram prosas que não acabavam mais

A estória da onça de Juca Leite

Desta, ouviam-se até os roncos

Nos meninos, o medo e o corpo gélido

Ali, de súbito, logo imaginávamos que a bicha aparecia

Tão grande e tão feroz, iguais a estórias de antigamente

E de vez quando víamos coisas!

Impressões da folhagem caindo

Enquanto, os nossos velhos nem se importavam

E logo ali se tinha a fonte

Fonte de amor e vida

O lago do paradoxo, meu lago da vida

Quanto mais nos alimentávamos

Mais ingratos seríamos

Ah vida, por quais caminhos ainda me levará!

Se desse amor que vivi ainda vivo

 Nilson Ericeira