O espelho da alma

Logo
eu que vivo a me alimentar de letras

E
que talvez por isso minhas fomes nãos cessem

Minha
sede não passe

Minhas
pegadas sem marcas

Logo
eu que vim de um país pária

Que
passei todo tipo de coisas

Em
solidão passei dias sem que ninguém se tocasse

E
que mal me alfabetizei, pensei-me por um letrado

Iletrado
sou, talvez um consumista de sonhos

Entre
os quais: o de que viverei para sempre

Igual
semente em maturação

Oh
que ilusão boa de sentir

Então,
vou tecendo versos, puxando fios e fazendo malhas,

escrevendo
assim impressões que me vêm do coração

Mas
sei que antes de mirar no meu próprio espelho

Busco
minha alma virgem

Minha  carne virgem e forte


que há muito pequei em sentir

Mas
ainda que de outros males eu padeça

Sei
que a minha dor não vem só de mim

Antes
fosse, pois logo o meu peito não sangraria tanto

É
que sofro as dores dos mundos

De
tantas causas, de tantas sinas e que, parecem nada nos ensinam

Ah
e como eu quisera tocar na minha própria alma e dar-lhe cérebro

Pois
talvez assim devaneios e ilusões nem tivesse

Assim,
ao me olhar no meu próprio espelho

Enxergar-me-ia
na minha real forma sem traços de hipocrisia

 Nilson
Ericeira