Sequidão

Tenho sentido sequidão

Enrijecido pelas coisas da vida

Amargurado na minha pequenez

Mas não me culpo nem transfiro sangrias

A minha fonte me tem negado água

Por isso, ando insalubre, insipido, incolor

Meu doce riso me amarga

Meu sal salga meus versos

Meu caminho me desvia

À minha fonte nega-me adubo

Em mim, desertos…

E agora, de onde tirar a ceiva da vida!

Sinto-me de veias entupidas

Cujo fluxo, refluxo

Parece-me formar crostas insensíveis

Indizíveis, silenciosas, que me apertam

Navego para lugar nenhum

E se de sequidão não me alagar

Me afogarei em mim mesmo

Eu sei que os versos não dizem tudo

Aliás, vazios iguais a fonte

Mas são prenúncios

E se na fonte não há água

O oxigênio rarefeito

Pois o que tenho feito

Se sei que a minha súplica é em vão

Nostálgica e em descaminhos

Pois sou apenas um pecador

Que se alguma dor sente

Sente sozinho

Só, somente,

sozinho caminho

Nilson Ericeira