Um ‘cala-fete’

Eu faço uso desses parcos versos

Para dizer o que do meu coração emana

E para não me explicitar

Embora me dedure

Vivo a juntar palavras

Por vezes sem sintaxe alguma

E com a sintaxe da vida

Já há tempo me disperso

E silêncio ou efusão

O meu riso, quisera não ser disfarces

Mas adverso é o mundo

Portanto calafeto versos ou fugas

E exerço papeis

E adoro quando estão em branco

Pois ponho a minha imaginação

Se eu pudesse e só dependesse de mim

Seria um músico

Pois assim não só contaria como cantaria

Ou mesmo um palhaço

Pois me divertira da minha graça

E na falta dela, sorria de mim mesmo

Sou um calafete mal acabado

Talvez em mim mesmo precise calafetar

Pois um ser inacabado

Uma peça que tem aparência de pronta

Mas que amargura, fere-se, cura-se…

E quando verte a dor lá do coração

Junto letras, faço versos

Mas senhores, não se preocupem

O meu lugar é único

E o de vocês, o trono

Os palcos da vida e imagens e sons

Com o meu calafete

Estarei de pé para aplaudi-los

Nilson Ericeira