O meu estado invisível

Ninguém percebeu

Nasci, chorei, sorri

Ninguém viu

Ninguém ouviu

Eu engatinhei

Ninguém ouviu

Eu chorei, ninguém sentiu

Eu engatinhei

Ninguém me ajudou

Eu andei, me perdi, me encontrei

Ninguém me ajudou a encontrar os atalhos

Eu cheguei à adolescência

Eu gritei

Tornei-me um insuportável

Ninguém me ajudou a entender o mundo

Eu cresci, estudei, entendi como são as coisas invisíveis

Mas criei mundos…

Alguns me perturbam

Ecos em mim

Envelheci e vi o tempo passar por mim

Agora ‘feio’ e moribundo

Quantificado em ordem decrescente pelos anos finitos

Qualificado pela minha aparência

Sei que já fiz parte de maravilhosos slogans

Mas as Políticas não me alcançaram

Hoje sou um moribundo

Sem estado, sem graça e quase sem vida

Pensei, pensei: sou um ser invisível

Mas necessário, pois sem mim

Alguns algarismos a menos

Sinto que a minha cicuta é doce

O meu sal é insípido

O meu céu,

na tonalidade da desilusão

O meu poema,

o que sai do coração

Anda bem

Nilson Ericeira