Carta a um amigo V

Por Nilson Ericeira

Carta aos amigos:

Carta a um amigo V

Escrevo-lhe estas mal traçadas linhas na esperança de encontrar todos daí muito bem. Ao tempo em que comunique a todos da minha enorme saudade!

Saudade de todos os dias, de nossa casa, nossa família, nossos amigos e vizinhos. De tudo e de todos todos os dias me lembro…

Aqui na capital as coisas são completamente diferentes, se quiser comer tem que sair e dá um jeito. O meu jeito, às vezes é esperar… Pois o emprego que arranjei é de servente numa repartição importante. Como sabem, vim com meu pai aqui para capital e conseguimos falar com pessoas influentes na capital que são nosso conterrâneos. Fez algumas recomendações, mas me encaminhou para o emprego, ainda bem.

Como disse, aqui tudo é diferente, passam muitos ônibus e os lugares parecem muito longe. Só para vocês saberem, aos domingos sempre vou à casa da minha avó, mas espero horas e horas na parada e, não posso perder o primeiro que passa, pois corro o risco de ficar por lá mesmo. Mas aos poucos as coisas vão se ajeitando. Já arranjei escola. Tento facilitar a minha vida corrida, para tanto, estudarei numa escola tradicional, mas de pouca exigência, ainda bem!

Sinto um vontade enorme de estudar, porém sei que sou arrastado, como todo daí sabem. Acho que não serei ninguém sem estudar, pelo menos nisso já estou modificado. Eu sei que estou falando mais de mim de que de vocês, mas é com vocês que estou todos os dias, desde que amanhece o dia até a hora de dormir. Lembro-me e sinto falta do beijo da minha mãe na hora de dormir, todos os dias. Lembro-me de tudo, mas sei que chega a hora que precisamos sair e ganhar asas.

Aqui tenho encontrado muita gente boa, gente que me oferece as coisas, até lugar para comer e morar, porém sei o que meus pais me instruíram: que eu deveria seguir meu próprio destino. Não recuso por orgulho, mas por brio.

O meu serviço é bom: chego bem cedo, limpo as mesas e cadeiras, varro e passo pano no chão, só passo enceradeira aos sábados. Lavo os banheiros, dou recados, levo expedientes e faço pequenos serviços burocráticos e até já me arisco a atender telefonemas! Estou até aprendendo a datilografar nas horas que os funcionários não estão.

Não se preocupem, estou bem, logo chegarei aí para colocarmos a nossa prosa em dia. E, ao receberem esta carta, peço-lhe que me respondam, pois assim alentarei a certeza de que não estou só.

Abraços do amigo.

Nilson Ericeira