Um pintor de versos

Faço meus versos da forma que pinto a minha vida

Ora borrados de lágrimas

Ora altivos e receptivos

Noutra hora sozinho em multidões

Eu levo sementes com coloração

Umas verdes como folhas

Outras vermelhas como os olhos

Em noite de separação

Eu pinto a minha vida da forma que faço versos

Faço rascunho e ponho no mundo

Dou asas a gaivotas

Motriz a caravelas, ponho velas, meto remo

Dou águas a minha angústia

Vazão à minha paz

Busco pessoas distantes e me aproximo das que tenho aqui

Faço tintas com composição

As mistura no meu coração

Acho que sou um pintor da vida

Vivo a imaginar coisas

Ponho-me em campos floridos

Me envio no meios das aves

Toco nas nuvens com as mãos

Vou buscar quem tenho saudade de alagar meu coração

Assim eu vou tecendo, ou melhor,

rabiscando meus desenhos

Ora eu tenho tuto

Noutra hora não tenho nada

Faço e desfaço coisas

Contudo, não me esqueço de pintar a vida antes que ela se acabe

Um dia se alguém me lê, logo vão ver que hospício

Andei falando calado

E acho que nunca ninguém vai escutar

O soluço de um flagelado

Enquanto não descubra a minha própria cura

Pego balde, viro e reviro, mexo com tintas de mim

Talvez assim possa chegar a essências de flores e jasmins

Se pintar com letras é face da loucura!

Portanto, eu sou mais um a fazer as tintas da vida com letras

Porém não sei se já me faço compreender

Nilson Ericeira