Eram manhãs vazias
Que se preenchiam com o tempo
Preguiçosamente iam tomando as cenas
As pessoas passando
‘Pelecatas’ sujas de lama até a canela
Cachorro velho no meio
Meninos correndo
Sobressaltos e poças de lama
A expectativa a hora da maré
Canoas descendo
Lá no fundo,
escutavam-se as ‘tabaquinhas’
Um quintal sujo e mal cuidado
Galinhas mariscavam no terreiro
Ao fundo, latrinas
E o vento frio vindo dos ‘arizeteiros’
Uns pés de figo
Tamarindo azedo a azedar a vida
Na rua, uns carros velhos
O berro dos vaqueiros
E boi puxado na venta
O sol se abria aos poucos
Ou em casamento de raposa
Olha o peixe, olha o peixe!
Na cozinha, mulher viva torcia a cara
É aracu, piau pitiuoso da moléstia
E saia menino com enfieira inteira
Na porta, meançabas já secavam
É hora de olha a vida!
Pois, nas paredes velhas
Gaiolas e passarinhos
No peito, saudade
Só saudade!
Nilson Ericeira
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