A minha face nua

 

Toscas lágrimas sem nenhuns sentidos

Encontram vazão nos desatinos

E no meu coração ofegante

Ali, bem distante de mim

Parece desgarrado desse eco natural

É que a minha face nua

Por vezes tão cínica e dissimulada

Sem pudor e sem pressa

Finge que dor não sente

Mas tem me consumido vagarosamente

Ao passo do tempo e com a leveza do vento

Tem me levado ao vento

Melhor seria aos léus,

mas sei não acertaria a porta do céu

Antes seca, que rocha me seria

Talvez fosse assim mais firme ou mesmo andaime
na minha vida

Ah lágrima fingida!

Por que não se derrama toda

E me diz que teu nascedouro é angústia

Pois se eu tivesse sorte

Antes nem vida teria

Assim vive a alargar meu ser

Talvez então, de falta minha ninguém sentiriam

Pois desconheço alma vivente que me abrigue

Que faça conta de mim

Ou me procure mesmo que no escuro

De tão fraco, franzino, inútil e pequeno

Ao ponto de viver a conter lágrimas minhas
Nesse ponto, não nego, sou egoísta

Pois as quero só para mim

Antes fosse sangria, pois de vermelho me
tingiria

Nem sentiria então, o gosto desse sal

Pois eu sei que meu ser sem asas e alma,

planta-se

Igual bicho morto à deriva

 Nilson Ericeira