Num ensaio

Há em mim uma expectativa

De que no final da festa serei
convidado

Por isso vivo a ensaiar

Por vezes me saio bem

Outras, muito mal

Mas espero no ensaio

Possa ser que falte algum
figurante

Então, vivo a olhar da janela

Possa ser que me vejam

Enquanto não me enxergam,

preparo-me

Trato meu corpo

Aumento o tom da minha voz

Arregalo os olhos

Aguço a percepção

Afino a audição

Faço caras e bocas

E até caretas resgato

Pois quando me anunciarem

Espero que a farra ainda não
tenha acabado

Não seja final de choro nem
velas

É que fingir é diferente de
interpretar

Por isso vou ensaiando

Visto-me de belo

Coloco fantasias

Aludo vozes

E, então, me apresento para o
show!

Mas o show ainda não parou

Por isso enceno

 Nilson Ericeira