Saudade de Arari

De
acordar bem cedinho e ouvi o galo novo cantar.

Abrir a
cancela e os frangotes vir mariscar.

De
comprar pão no Zé Ericeira ou Zé Padeiro…

De ouvir
o som da buzina dos pescadores de piranhas.

De ouvir
a gritaria de maré cheia que pororocava nossos corações.

Saudade
de encher os pés de barro liguento.

Saudade
de pular as poças de lama.

Saudade
de sentir saudade do povo daquela época.

De ouvir
as histórias de seu Jorge.

De ouvir
a voz de Arari que era dividida, mas que ninguém podia perder.

Saudade
de encontrar uma casa que tivesse televisão.

Pra ver
a primeira novela e sentar no chão bem pertinho dela.

Pegar
nãos mãos dos irmãos e ter coragem.

De olhar
para o tempo que parecia não terminar.

Saudade
de sonhar que nunca sair desse lugar.

Acho que
eu sinto é uma enorme saudade de amar.

Voltar
sempre pra casa até que um dia…

Amar,
tomar bênção, escutar histórias dos mais velhos.

Saudade
de ver a água encanada chegando, a luz acendendo e murrão apagando.

Saudade
da bandinha na praça, saudade de paquerar.

De pular
da ponte de escorregar na do Nema.

De
alguém que me chamava panema.

É uma
saudade inconstante: de vir, de ir e de estar.

Sempre,
sempre no mesmo lugar: Arari!

   Nilson Ericeira (Robrielle)