Os meus melhores caminhos I

Fora ao lago da Morte em
Arari, Baixa dos Paus, Porção da Beira, Igarapé do Nema, Fazenda Velha, Rua da
Franca e tantos outros caminhos que desbravei…

E no Lago da Morte, com
frio de doer o queixo, meu pai saia mansamente com sua tarrafa de fio… Logo
um piau ou mesmo uma traíra engrossaria o caldo dos seus seis rebentos. Mas eu,
ainda muito criança, sentia tanto frito que, por vezes, até torcia para meu
velho não ir muito longe. A cada passo, mais subia a água no meu corpo franzino.

Fora ir, pela primeira vez,
ao Curso de Comunicação na Ufma, uma das minha maiores e mais felizes
caminhadas. Lembro-me perfeitamente, andei pelo Campus como quem procura
abrigo! Vi-me no mundo acadêmico, logo eu que era completamente ignorante no
sentido exato da expressão: nada sabia, mas trazia as minhas visões de mundo e
muito senso de amor, justiça e vocação pela comunicação e educação. Ali eu já compreendia
que a educação pode salvar o mundo dos seus principais problemas: como por
exemplo, o mundo da exclusão social. Mas era preciso aprender a aprender!

Primeiro eu precisar me
situar no mundo da leitura e compreendê-la. Uma tarefa sobremaneira muito
difícil para quem, na infância pobre em Arari, não tinha apego aos livros. Sentido
em que meus colegas e alguns professores do Curso tiveram uma enorme
compreensão para me destravar. Vale anotar que paciência e companheirismos
jamais esquecidos por mim. E não é que cheguei a esta fase: “enxuga mais esse
texto aí!” Depois de algumas horas trancados na salas ‘ociosas’ do prédio de
Ciências Sociais. Quando chegavam os posseiros transitórios tínhamos que sair
de porta em porta vendo qual a próxima que nos serviria de laboratório.

Rude e analfabeto funcional,
segui o meu destino: o de ser um comunicador. É verdade que desde criança,
procurava imitar os narradores esportivos. Lá na minha querida e amada Arari,
na beira dos campos de futebol, quando eu não estava a me lambuzar na lama dos pátios
e ruas na minha amada Arari, ensaiava uma transmissão.

Talvez tenha servido
apenas para dialogar comigo mesmo… Mas, por outro lado, poderia ter sido um
sinal de vocação para uma das profissões que considero mais importantes para a
sociedade.

Lembro-me que um dos
professores nos alertava do que seria ser um Comunicador e ser talvez um dia um
Cientista Social. Ali, num canto da sala, de uma coisa eu tinha certeza, a de
que a minha fome já não me era só orgânica.

Antes da academia, andei
por quase todos os cursinhos famosos da época, criei grupo de estudos, cerrei
noites lendo o que não compreendia. Mas fui literalmente induzido ao mundo do
conhecimento por pura necessidade de aprender e ter uma certa condição social.
Nas repúblicas, locais de moradia onde passei, não foram poucas as mãos
generosas que encontrei. Por esta razão, que tenho a certeza de que nunca
caminhei só, sempre apareciam àqueles que não somente me abraçavam, mas me
apontavam os caminhos.

Na Seduc, lembro-me quando
saiu o resultado do vestibular com a minha aprovação. Era uma alegria só nos
corredores.

Estes caminheiros que me
ajudaram a fortalecer a minha esperança, e que me ajudaram a seguir nos
caminhos da vida, reservo um lugar de gratidão e amor no meu coração.