O mundo invisível

Procurei
essência de flores

Não
há flores, não há jardins, não há sementes

Procurei
água, vi-me no deserto

Pois
não há deserto, portanto não há vida

Vivi
só é não me acostumei

Por
isso vivo a produzir abraços

Procurei
o riso e o encanto na tua face

Perdi-me
em paixões, ilusões, devaneios

Procurei
matar minha sede

Defrontei-me
com pessoas injustas e gananciosas

Mas
ainda assim, não me permito a toxina do ódio

Procurei
ouvir sinfonias

Não
havia pássaros, passarinhos, passageiros, passaram

Procurei
a tua voz em mim

Não
havia mais ressonância, desencantei-me

E,
assim, fui me esterilizando numa vida ávida

Sem
me perceber, sem me toar e sem me sentir

Consentindo
que em mim só havia vazios

Então,
procurei produzir sonhos

Procurei
sair do chão, levitei

Fiz-me
de plumas para ir mais longe possível


do céu, em cena única, gritei: eu te amo!

Sem
o medo da queda

Logo
vi que o mundo é invisível e que não cicatrizei minhas feridas

Apesar
da dor, tornei-me um ser insensível

Mutante
de um mundo furta cor

 Nilson
Ericeira