Azulejai
por nós
Oh
minha cidade
Escorrida,
escorrendo, escapando, agonizando
Pintaram
até meus pés,
mas
apressaram a minha morte,
morri
por asfixia!
Meu
pulmão – minhas folhas -não suportaram
outra
parasita que me apertava dia e noite fingindo que eram abraços.
Outros
me molharam os pés: de tinta cal
Não
suportei CO2
Nenhuns,
nem dois…
Meus
pés secaram antes a descargas tóxicas
Meus
rios invadidos pelos ‘humanos’
Minhas
fontes, minha bica
Nenhum
governante mete o bico
Minha
flora, minha fauna, meus bichos
Meus
casarios em destroços
Andorinhas,
pardais, rolinhas, ora pombos’
Bentivis
de São Luís
Ratos
que me mordam
Somos
todos cobaias de nós mesmos
Meu
centro histórico, artístico, cultural…
Patrimônio
da desumanidade
É
uma vergonha, ou melhor,
Cem
vergonhas!
Nossos
becos, ruas, vielas…
Assombração
Meus
azulejos sujos
Minha
cidade esvaindo-se
O
que nos mata mais que a fome:
A
inação
Pobres
de nós que ainda assim te exaltamos
Daqui
do meu mirante poético,
te
enxergo em sangrias
Tomara
que seja antevisão dos meus sentidos
Mas
a minha denuncia sem nexos
Pois
a olhos vistos é grande a omissão
Enquanto
amarram meus pés
Meu
peito sangra e minha respiração já me é ofegante
Antes,
cidade dos amantes
Hoje,
amnésias, pois acéfala no tempo
Ericeira
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