Sinto
agora o cheiro do rio
Dói
na alma medo de peixe-boi, sucuruju
Mãe
d’água
O
medo se faz tudo, horror
Aos
poucos escuto canôa roncar
Meninos
olham da barreira
Lama
preta fede
E
se junta à água benta do Mearim
E
se junta a outros dejetos
É
que pra nós a civilização não chegou
Escuto
o toque do motor das lanchinhas
E,
aos poucos, lavandeiras esticam seus trapos
Água
suja que não acaba mais
Ainda
assim, quaram e enxaguam seus trapos
Porcos
imundos esperam alimentação em latrinas
Pobre
cerca que as marés levam
Fezes…
A
desembocar em São Marcos
Com
direito de bênção de Bom Jesus
Marias
de braços abertos implora
Que
não matem o rio que corre
Pois
em silêncio
Peixes
revolucionam
Ante
a sua extinção
Na
barreira e em letras
Poetas
protestam
E
atestam a incompetência parida
E,
olho pro céu e vejo japis passantes
Rolinhas
errantes, andorinhas anunciantes
Pois
em sentem saudade de ‘cotoniére’
Avisto
longe outro sol que começa a nascer
A
invadir uma rua que é sua
E
a cidade nua aquece o coração
Assim,
pede graças desta retórica que não seja em vão
Pois
a raiz de mim e de nós
Nossos
amigos, parente e avós…
Pois
com os pés, por vezes fora dela,
Aqui
da janela, contemplamos o seu chão
Ericeira
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