Arari, chão de amor, na denúncia concebida II

Sinto
agora o cheiro do rio

Dói
na alma medo de peixe-boi, sucuruju

Mãe
d’água

O
medo se faz tudo, horror

Aos
poucos escuto canôa roncar

Meninos
olham da barreira

Lama
preta fede

E
se junta à água benta do Mearim

E
se junta a outros dejetos

É
que pra nós a civilização não chegou

Escuto
o toque do motor das lanchinhas

E,
aos poucos, lavandeiras esticam seus trapos

Água
suja que não acaba mais

Ainda
assim, quaram e enxaguam seus trapos

Porcos
imundos esperam alimentação em latrinas

Pobre
cerca que as marés levam

Fezes…

A
desembocar em São Marcos

Com
direito de bênção de Bom Jesus

Marias
de braços abertos implora

Que
não matem o rio que corre

Pois
em silêncio

Peixes
revolucionam

Ante
a sua extinção

Na
barreira e em letras

Poetas
protestam

E
atestam a incompetência parida

E,
olho pro céu e vejo japis passantes

Rolinhas
errantes, andorinhas anunciantes

Pois
em sentem saudade de ‘cotoniére’

Avisto
longe outro sol que começa a nascer

A
invadir uma rua que é sua

E
a cidade nua aquece o coração

Assim,
pede graças desta retórica que não seja em vão

Pois
a raiz de mim e de nós

Nossos
amigos, parente e avós…

Pois
com os pés, por vezes fora dela,

Aqui
da janela, contemplamos o seu chão

 Nilson
Ericeira