
‘Ararizei II’
Hoje acordei bem cedinho
E ‘ararizei’!
Fui buscar o dia
Arrumei tarrafa e apetrechos no côfo
Levei ‘bibiana’ acesa
A tocha abria os caminhos
Eram os holofotes da minha vida
Ainda era noite, no céu espasmos de relampejos
O medo me tomava, ainda que soubesse que estava no paraíso
O paraíso nos caminhos de Arari
Atravessamos ruas, pegamos caminhos em meio ao algodoal
Passamos na cidade dos mortos
Ali parecíamos levitar
O medo nos tomava por completo
Éramos meninos…
As almas dormiam em silêncio sepulcral
Os animais pareciam meditar
Procurávamos passar
E passamos…
Aos poucos no céu uma mistura de cores
Parecia uma profusão em tela do Rei
Desenhos do imaginário e do real
Olhávamos sem perder de vista por um segundo o risco no chão
Naqueles tempos, falavam de uma onça que rosnava não muito distante
Às vezes parecia nos acompanhar
Qualquer cisco no chão era um tormento
Ali na clareira que se abria vultos ligeiros
Acima da testa, vaga-lumes…
Que contribuíam com a nossa ilusão
Os pés, a prosa, as estórias, as piadas, o cigarro de palha
Éramos pescadores mirins ou auxiliares da pescaria
A frente, um campo grande com os despertar de inúmeros pássaros
Estava amanhecendo o dia
A algazarra no paraíso do Lago da Morte
Veja só o paradoxo!
No chão, uruás…
No céu, o sol de Arari
De água benta, santificada de amor e vida
Nos corações, amor único em composição
Uma mistura de nós com nós próprios
Um espectro sentimental
Enfim, o Lago da Vida!
Um frio de quebrar os ossos
Mas que o nosso velho pai parecia não sentir
Afinal, deveria alimentar sua prole
Ali, um espetáculo se fazia
Em nós, recordações do Lago que nos alaga de amor,
saudade e vida!
De dos caminhos de uns dias…
E de sempre, eternos, fincados nas nossas memórias
Por isso, hoje resolvi mais uma vez ‘ararizar’
Extravasar, retroceder e voltar a caminhar nos caminhos de Arari
Nilson Ericeira
(Ronbrielle)
More Stories
Usina de Ideias
Arari e o meu amor possessivo
Destaque no Jornal de Itapecuru