Nu na esquina ou um indigitado

Nu na esquina ou um indigitado

Estava recostada a parede dos muros da vida

Logo percebi que todos estavam com muita pressa

Pareciam viver o último ida

Um ou outro caminhava sem nenhuma pressa

Parecia já ter fechado todas as suas contas

VI um mundo frenéticos, pessoas em frenesi

Vi zumbis noutro planeta

Viajavam nas galáxias do digital

Poucos pararam para ver os noticiário do mundo

Pouco sentiram a dor dos mutilados físico e mentalmente

Ninguém saiu do bando para me abraçar

Recostei-me no muro bem firme para não cair no abismo ilusório

Eu vi pessoas se comunicarem com agentes muito distantes

E negarem-lhes abraços para o bem próximo

Aparentemente ligados em aparelhos que humanizam

Mas perecem de amor ao próximo ainda que acenem com os dígitos

Uns indigitados, desalmados, desarmados no meio da guerra

Escutei o eco dos poemas e percebi que as personagens desencarnavam

Pois não desejam ficar fora da onda midiática

Por um momento me vi no meio do mar e à deriva

Não há mais tempo, pois consumido pelo ócio

Ainda que se ‘avorem’ de sábios,

nada sabem nem de si mesmos

Da minha nudez na esquina, sentir vergonha dos outros

E sentir que não estava ainda completamente nu

Então, acordei, teclei, viajei e me vesti da minha nudez poética

Nilson Ericeira

(RObrielle)