Espécie em extinção

Sou passageiro eu sei

Sou aquele trem que passou que eu não sei para onde foi

Eu sou o sol mais lindo

E água límpida que Deus fez

Eu sou o filho do homem

Eu sou do amor

Fruto do casal mais belo e apaixonado

Sou tudo que há e o que não está aqui

O que posso, o que não posso também

Pois sou a inconstância da vida

Uma hora eu dou gargalhadas

Na outra eu sinto saudade de ti

É que sou um verso incompleto e página em branco

Eu sou o nada e muito mais que abundância

Sou o meu eu dividido e compartilhado

Eu a solidariedade com o irmão

Pois sou a mais rara espécie em extinção

Sou amor de todos os dias

Eu sou a flor e abelha

Sou beija-flor em mutação

Um colibri insistente

O néctar da vida

E o desgosto da ausência

Um pouco de tudo e do nada

Eu sou esse sujeito sem jeito e matuto

Sem saberes de que me agradem

Insaciável talvez

Pois eu sou o mesmo próprio completo

Nilson Ericeira