Versos dos meus dias
Raízes da minha vida
Meu tabuleiro velho
Verniz do meu coração
Formas, alicates, corta-bicos
Assim a prole nasceu
Ouvindo o tilintar do pé-de-ferro
E o cheiro forte de cola e tinta de sapateiro
No tempo de outrora
Agora, presente na minha imaginação
E oxigenando a veias do meu coração
Nosso tabuleiro-cofre
Pois na ânsia do dia, nutria a cria
Meu velho pai ‘sapateirava’
Suava, burilava, engraxava, arrebitava…
‘Cresci ‘ouvindo o som da sola batida
Do coro adormecido
Do biscate que valia a boia
Assim que começava o dia
Logo aparecida um vizinho na porta
E era um prosear sem fim
Mas o tabuleiro velho ansiava
Esperava noite e dia
Criar suas crias
Portanto, burilei e amei
Passei das chuvas mais forte e até ventanias
Mas no peito só alegria,
de poder um dia estes versos montar
E assim como os moldes na parede da casa velha
Me disperso sem demora e versos lembrar
Nilson Ericeira
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