Burilar II

Versos dos meus dias

Raízes da minha vida

Meu tabuleiro velho

Verniz do meu coração

Formas, alicates, corta-bicos

Assim a prole nasceu

Ouvindo o tilintar do pé-de-ferro

E o cheiro forte de cola e tinta de sapateiro

No tempo de outrora

Agora, presente na minha imaginação

E oxigenando a veias do meu coração

Nosso tabuleiro-cofre

Pois na ânsia do dia, nutria a cria

Meu velho pai ‘sapateirava’

Suava, burilava, engraxava, arrebitava…

‘Cresci ‘ouvindo o som da sola batida

Do coro adormecido

Do biscate que valia a boia

Assim que começava o dia

Logo aparecida um vizinho na porta

E era um prosear sem fim

Mas o tabuleiro velho ansiava

Esperava noite e dia

Criar suas crias

Portanto, burilei e amei

Passei das chuvas mais forte e até ventanias

Mas no peito só alegria,

de poder um dia estes versos montar

E assim como os moldes na parede da casa velha

Me disperso sem demora e versos lembrar

Nilson Ericeira