A castração de um ‘cidadão’

Aqui me negaram tudo

Negaram-me

Negaram-se educação

Saúde

Lazer

Prazer educação

Negaram-me Nação

Sonegaram

Negaram-me direito

Ainda me chamam de cidadão

No civil

No administrativo

No consumi-dor

Mas no penal,

Meteram-me a taca

Negaram-me passagem

E até alimentação

Moradia

Transporte e quase tudo

Negaram-me até água

Em vez de vinho

O pão que o diabo amassou

Não posso ir e vir

Ainda dizem que sou livre

Livrem-me desse ‘políticos’

Quero ser um cidadão normal

Quando alguém passar mal!

Encomendem logo o corpo e ponha no jornal

Pois assim serei visto em papeis

Pois nem fedo nem cheio

Sou um in-di-gente

Estorvo humano

Desumanizaram-me

E sei que não me negarão despedia

Ainda que já há muito me abandonaram

Mas se só negar

Não me deixe no tempo

Nilson Ericeira

E no jardim da vida

Um dia a flor nasceu!

A mais linda e essencial

Até o sol inibia-se com beleza dela

Ainda assim insistia em cobri-la

O sereno aos poucos saía

E parecia sublimação

Em cores furta-cores

Encheu de amor meu coração

E, aos poucos, o ciclo do dia

Virava-se para mim

Seguia meus passos

Abria as pétalas

Distribuía garbo

Movia-se com o vento

Parece até que fora feita para mim
Parece até debochar de fragilidade minha

Pois a cada dia, lá estava cada vez mais bela

Linda, exuberante, fascinante

Despertando-me o desejo de tocá-la

Mesmo que há muito no meu coração resida

Ah minha flor de vida!

Mesmo que em ciclos imaginários

O cenário é meu

Então, ponho-te no céu

Ponho-me também no teu mundo

e te dou essências

E me faço gente, um agente vigilante do teu amor para sempre

Mesmo que em cenários e abstrações

Pois, antes fizeste mora em mim

Mesmo que em jardins a ermos

Deriva-te do amor que sinto

Nilson Ericeira