No dia da eleição, Ócio e Néscio em sombra e água fresca

O resultado das eleições
não deixaram Ócio e Néscio satisfeitos, pois estavam contando com periquitos e
papagaios para votarem, mas pelo visto o periquito comeu milho e o papagaio
levou a fama.

Fazendo boca de urna perto
do ‘intersalte 14’, – que tirou fino do 40, Néscio foi flagrado na hora de
mostrar a cédula, pediu pelo amor de São Lucas para não o dedurarem para seus
aliados, ou melhor, alijados. E jurou por seus filhos, netos, bisnetos e
tataranetos que não traiu e não trai. Mas José não é Carlos assim como Carlos
não é Zé e urna não é caixa! Só apelando então para São Jorge.

Pif, pof, pif pof: espoca
urna!

Ócio tinha colocado uma
bandeira amarela na sua possante SW, vestido dos pés a cabeça de verde amarelo,
estava até chamando papagaio de meu louro, quando sabiamente o adverte Néscio:

— Olha pra esse cargo aí,
nós têm que ficar em cima do muro, pois quanto mais alto for o muro, maior é a
queda! Tá ligado?

Por falar em muro, você já
viu o muro e as valas da casa do outro lado da ponte? Piriri pororó! Cala boca
Matias!

— Não é cala boca Matias,
é boca de Matilde.

— Matilde ou Matias, tudo
é da mesma família.

— Oh língua!

— Tu ainda vai atrapalhar
nossos ‘negócios’!

— Mermão, de agora em
diante tudo vai ser diferente, quanto mais ficar perto da autoridade, melhor
será… Daqui a dois anos a eleição é aqui mesmo. Vamos apoiar o candidato do
home. O home é bom, honesto, trabalhador, culto, ‘bom de gente’, conselheiro
sentimental e nunca nos esquece. Pelo contrário, nos aquece. Tô até pensando em
fazer um mirante na minha casa só para ficar olhando lá de cima o home ir para
o ‘trabalho’.

— E o outro?

— O outro, já era. Os
outros são os outros e nada mais!

— Vai dar Cascaria, quem
bem avisa amigo é.

Pluft, pluft… “Lua, lua
cheia, que nasce no meio das águas, que finge morrer e desmaia, nos braços de
uma sereia”. E que sereia!

Enquanto desce o mururu
lentamente na paisagem paradisíaca e nostálgica lá de longe… É rio que desce,
é rio que sobe…

E eis que de repente,
entra no diálogo Miguilin, com seu ar esnobe e de garanhão:

— E que sereia, sereia
não, aquilo é um avião!

— Vamos mudar de assunto,
não quero me incompatibilizar com o patrão! Alude Ócio.

— É bem melhor tu
verificar se tem água no açude, ver se a ração para os gatinhos e cachorrinhos,
se a garça de pedra está olhando para o horizonte, a mosca azul tá voando, a
hora da procissão, ver também se tem abelha reproduzindo, se a bota do patrão
tá limpa, se tem sapinho na lagoa e quanto tá a cotação do dólar… Isso te dá
muito mais resultado.

Mas sapo   não lava os pés, não lava os pés”… “Não lava
os pés porque não quer”.

E assim transcorreu o dia
das eleições para Ócio e Néscio, com grana no bolso, salários em dias, muita
sombra, água que passarinho não bebe e uma aguinha fresca, afinal ninguém é de
ferro.