A minha autoimagem

Vi-me
em mim

Escorregando
em planchas

Comi
esmeril e me engasguei com sujeira

Banhando
no rio

Pulando
barreiras

Cercando
cercados

Jogando
pelada,

Gudes,
chuchu e tampinhas

Correndo
nas ruas

Andando
quase nu

Pois
vestes quase não tinha

Fiz
da lata de doce um prato

De
sardinha, um carrinho!

Do
tubinho de linha um trator

Do
talo de picolé uma patrol

Com
vela e liga,

o
motor que ele tinha

Fiz
um barquinho que alimentava os meus sonhos

Quando
chovia, a minha maior alegria!

Fui
fazendeiro, engenheiro, pescador…

Fiz
o céu com lápis e papel

E
pus as cores que eu tinha

Fiz
andorinha voando

E
outras anunciando o verão

O
sol, a lua, a estrelas, a nossa casinha e a sombra

Decorei
tabuada só com medo da palmatória

Peguei
cascudo que doía na alma

Aprendi
na cartilha do ‘abc’ e decorei de a a z

Ainda
assim, não me permito sequelas

Sou
do tempo do tempo do amor

Sou
filho do pai que amava os avós

Dos
irmãos unidos como devem ser os irmãos

Acho
que nunca saiu de dentro de mim

Àquele
menino que ainda engatinha

   Nilson
Ericeira