Oh Senhor, contenha-me dos meus
vícios
Um deles o meu próprio ópio,
Impulsionado pelos meus sentidos
Olhos, narinas, ouvidos, boca,
coração…
Outros escrevinhados mesmo é no meu
coração
Sonolento que fico ao me apertar
solidão
De olhos vermelhos e alagados, corpo
esquálido
Mas sempre me ponho em viagens
Por vezes, acho a vida
Noutras, a minha própria morte
Oh Senhor, proteja-me de alucinações
e devaneios
Por ser um ser maleável e cético,
creio só que vejo e sinto
Ao ponto de me esconder ou proteger
na minha própria escuridão
Outras vezes, em clarões…
Cativa-me meu Deus!
Para que nunca me afastar de ti
Não te negar mesmo quando te aceito
Juro mais de mil vezes que não te
negarei nem a Pedro,
nem em pedras, nem a ferro, nem a fogo
Mesmo que o açoite da injustiça no
meu coro arda
Agora mesmo, aqui assentado sobre
meus escombros,
soletro letras, vejo mundos e te vejo
passar
Sabe àquelas nuvens que fixamente
acompanhamos…
Àquelas luas que fixamos nos nossos
olhos e que uma e umas são as mesmas!
Não me permita negar o que é sagrado
Pois antes morrer a deixar de amar
Penso que meu ópio de todos os dias é
a minha imaginação
Tão rica e tão pobre
Meu ópio de todos os dias é a minha
imaginação
Às vezes, tão cheia
Outras, tão rasa
Assim, ao tempo que me dá caminhos
Afoga-me de saudades e paixões
Então, eu sigo embebecido de mim
mesmo
Vendo coisas incomuns e comuns de
nossos dias
Admirado que sou, de seres tão pobres
em si mesmos
E, enquanto, restar-me alguma porção
que possa consumir
vou caminhando na ilusões que eu
mesmo produzo
Nilson Ericeira
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