Meu soldadinho de Papel II

Como
um soldadinho de papel se tornou protagonista de muitas histórias!

O
que nascera do imaginário e ganha contornos de uma história real. Pois o mundo
é exatamente do tamanho que conseguimos imaginar! A nossa vida e dos nossos personagens
dependem de como assimilamos e valoramos a nossa convivência.

Eu
imagino que cada um de nós tivemos um personagem diferente em determinadas fases
da nossa vida.

Nasceu
num dia lindo Era meados da década de 60, numa das mais lindas e hospitaleiras cidades
do Maranhão.

Então
se formara o meu soldadinho de papel, fruto do gen da infância dos meninos da
Franca, em Arari.

No
quarto já havia cinco hóspedes que resolveram adotar mais um: o meu soldadinho
de papel. Confeccionado artesanalmente, com isopô, liga e chumbo, olhos sempre
admirados e dentes à amostra.

Na
sala um tabuleiro de sapateiro recheado de compartimentos bem divididos: um
pouco de areste, de preguinhos, cola, tinta, verniz, sola e o velho sapateiro a
burilar, ou melhor, laborar.

Bem
de frente o comércio, com armazém, oficina e um senhor de muita prosa e
conhecimento. Sabia tudo ou quase tudo que se passava na política local, amigo
que era de uma das autoridades mais influentes da cidade. O velho Dico ‘Prazer’
atendia a todos enquanto lá defronte retinia o pé de ferro.

Na
rua, bem no meio da rua, os cachorros cápri e feroz pareciam não se importar
com o que se passava…

Enquanto
o soldadinho observava as pontas de cigarros pelo chão… É que à boemia
cederam alguns jovens da Rua da Franca.

O
soldadinho bem nascera já chamava atenção a tantos quantos procuravam a oficina
de sapateiro de meu velho pai Clecy. O recruta assistia a tudo que acontecia e,
à noite, contava para seu parceiro do que vira. Olho no olho, tete a tete
interagiam sobre os fatos do dia.

Quando
o sono caia, os dois se enroscavam na rede velha que ‘rangia’ à noite inteira.

As
gaiolas, o quadro de madeirite com pôster do Botafogo, as encomendas, as conversas
de política, em que Pedro de Aprígio, Elias, Pedro José de Zé Ericeira (Burué),
Zé Banha, Gonzaga, Zé Melo, Ataulfo, Nena, o próprio Zé Ericeira, Juca, Zé
Pestana, Azim, Bina Figueiredo, Nelson Figueiredo, José Figueiredo (Alfaiate),
Marcelino (Casca de Ovo), Constantino e tatos outros faziam as sessões
plenárias dentro da casa mal tapada ou mesmo sentados no ‘pau da paciência’. Esta
era a denominação que deram a um esteio colocado à porta, propositalmente para
este fim.

Ali
aprendera o soldadinho a se divertir e divergir mesmo sem entrar na conversa. Às
vezes, o pegavam no colo para tirar sarro ou gozar o seu dono. Que logo vinha
socorrê-lo. Calma, calma, calma, não amassem o meu soldadinho! E saía reagindo
enciumado de tais intrusos que não entendia ou não pareciam entender o reino da
ludicidade.

O
meu soldadinho de papel fora alfabetizado na sala de aula do Mobral, onde dona
Eliesita Ericeira, formou turmas para alfabetizar, pois era já período do
regime de exceção.  

Ali,
o soldadinho, que só ficava quieto enquanto alguém não lhe tocava, pois mais
parecia um João Teimoso, tanto que assimilou o ‘ba, be, bi, bo, bu’ e o ‘da,
de, di, do , du’… Logo, um dos primeiro nomes que assimilara fora o da nossa
avó Maria, pois de codinome Bibi.

E
ficava por horas em ilações: ba, be, bi, bo, bu…