Um catador de letras

Um
dia vi-me um catador de letras

Um
caçador de sonhos

Um
catalogador de cenários

É
que vivo em mundos

Alguns
imundos:

genocidas,
pornofônicos, hediondos, misóginos…

Aqui
eis o meu grito de protesto!

Eu
detesto

Calo-me
então

Sei
que ninguém tem razão


um mundo que ainda não sarou da pandemia

Agora
sangra a agonia da guerra

Somos
de um mundo insano, doente

Viemos
e não sabemos voltar

Que
culpa têm as crianças, pois de tão sublimes,

vulneráveis
à ignorância!

Pobre
de mim que sofro com o sofrimento alheio

Pois
venho do mundo da sensibilidade

E
sei que amor não importa a idade

Eu
sou mesmo um assumido: vivo a mapear a minha aldeia, de letras

Letras
mortas, letras postas

Insensíveis,
irascíveis e vulneráveis

Deverás
enxugar as minhas lágrimas

Ah
se elas tivessem voz

E
nós…

O
que seremos nós?

Por
isso continuarei catando letras

Quem
sabe saberei um dia formar sílabas!

E
continuarei versando o mundo

Da
minha forma, sem forma e sem nexo

Mas
confesso, o que mais me dói é saber quem paga a conta

Os
justos!

Isto
é justo?

Em
que mundo tu vives?

Pois
os meus, mutantes

 Nilson
Ericeira