De um ser que enche e vaza

Acho que
parte do mundo é assim

Têm dias
que nos sentimos cheios até a tampa

E em
outros, vazios completamente

No vazio,
vamos nos enchendo aos poucos

Nos dias
de nossas vidas, há um esvaziar e encher constantes

Por vezes
nos sentimos cheios de tudo e vazios do nada

Ao fugaz
tempo de espera, à ânsia da chegada

Na
partida, a dor no peito sangra

Os olhos
enchem, o céu obscurece, o corpo adoece

Ah
saudade de enchente!

E
vazante!

Saudade de
gente!

E se não
fosse a nossa capacidade de encher e esvaziar tão naturalmente

Acho que
de outras mortes padeceríamos

É o enche
e vaza da vida que nos compomos e recompomos

E assim,
reconstituímos partes e integramos o nosso todo

Ainda
assim, há partes de nós que nos faltam e outras que sobram

Assim
passamos os nossos dias

Hora nos
sentindo vazios

Em
outras, contemplados no amor

É que todos
nós precisamos de braços que abraçam

Àqueles
abraços!

De bocas
que beijam e de corações sensíveis

Pois
devemos adubar o nosso ser de amor

Então,
sempre precisaremos de gente para nos encher e esvaziar

É que a
vida é feita de gente

 Nilson
Ericeira