Poesia boba

Eu sei minha poesia não é boa.

É
croa,

remansos,
entrâncias, borbulhares, olhares.

Muitos
olhares.

É
uma ilha,

Com
croas de um coração jorram-te.

Eu
sei que meu poema decrescente,

enchente,
mar, insurgente, dessa gente.

Que
só quer amar em mar de poesias em maresias.

Eu
sei que minha poesia é boba,

mas
acalma, silencia, grita, forja, camufla e adoece a alma.

Eu
sei que minha poesia é de dia,

amanhece,
anoitece, vem e vai…

Oscilações
incompreensões, estações.

É
estrela-guia, condutora, redentora, emancipadora.

A-dora,
Pandora adoram minhas poesias.

Eu
sei que meus escritos,

rabiscos,
besteiras, bobeiras, saudades, fantasias, mundos,

Ilusões
e paixões que de nada valem.

Me
valem, nos vales, nos bosques, na vida.

Revalidam
meu coração.

Eu
sei que não sei poesias, mas sempre escreverei poesias,

Mesmo
que com azia, azedas, talvez!

Declamarei,
na cama, na lama, no cio, na vida, nu ou vestido.

Eu
sei, aceitarei amores de poetisas, de poetas em maresias.

Mas
eu sei que não estou poeta, eu sou.

É
certo que um poeta pobre e de poesia igual.

Mas
é poesia que pororoca, que provoca.

Pobre
poesia, asmática, esquálida, de quatro: sonetos de asneiras.

É
poesia que arde, maltrata, conforta, oscila, merece, abastece.

Que
cala, que consente, que é dor, dor inconsciente, consistente.

Mas
é dor e todo poeta finge que é dor.

Que
é livre, amordaça, sufoca, respira e pira!

É
poesia de amar, de desamar, desfrutar, desnudar, oferecer.

Poesia
ao entardecer, no por no apor e até no corredor.

É
palavra pra  colocar, tirar, deixar,
penetrar, nascer e morrer.

É
verbo, mas é carne.

Carne
de desejo, carnificina, oficina.

É
poesias, risos, desencantos, de ser feliz na idade.

Mas
mesmo com poesias em maresias,

Eu
sei que não morrerei órfão de poesia.

E
nem me livro delas.

Pois
é ingrisia, fantasia, saudade,

ternura,
junção, nostalgia, prostituição e exclusão.

Negar
poesia é um risco e suicídio.

Então
nega, não segue poesias…

Me
fala, me acalma na cama, deixa eu deitar, falar, recitar, amar.

É
poesia!

  Nilson Ericeira