Água viva

Marota água que desce na minha face

Gélida me umedece, cala-me no tempo e na alma

Antes sangra o meu coração

Aos poucos meu ser alaga…

Marota água que molha meu rosto

Antes, sangra, igual faca de gumes bem amolados

E dói a dor do coração

E dói muito mais esta solidão sentida

Que em versos ganham asas,

mas pousa em mim

E na face corre águas minhas…

Tão doces e tão salgadas a maltratarem olhos meus

Mas eu te peço, mesmo que no meu coração em maresia

Não me afogue sem que declare que o meu amor é teu

Pobre de mim que crio mundos e disfarces

Coisa que ninguém acha graça

Mas que, por vezes, estanca água corrente em rosto meu

Quem me dera viver em sequidão

Em terrão estéril, pois assim água não verteria

Talvez um dia, quem sabe, aguas minhas secarão

Mas enquanto este dia não chega,

soluço e sofro a dor da solidão

Por vezes penso que meus versos virarão pedras

E até rochas, pois me escondo em letras combinadas

Ainda assim, prefiro assim que me alagar nessas águas

Pois sei que nem sempre controlo

Tendo em vista que a própria fonte sou eu

 Nilson Ericeira