Seduz-me
palavras minhas.
Palavras
soltas, palavras ventos, ao tempo.
Seduz-me
palavras ditas, não-ditas, benditas,
Palavras!
Palavras
que dizem e que não dizem.
Omitem.
Palavras
que frustram, que doem, maltratam, ferem.
Palavras
lexicais, fecais, mortas, vivas em ondas.
É
crista. Escrita.
Cerca-me
de tua textura, faz-me mundo:
Mundo
de palavras, significados, céus…
Quero
dar asas a meus pássaros, sinfonia à minha orquestra,
Amor
a meu amigo. Ao que não é.
Quero
palavras, quero sentir, escrever, dizer: eu te amo.
Quero
um lenço de palavras.
Abraçá-la
na mesma intensidade de palavras.
Seduz-me
palavras minhas, escravas, senhoras, rainhas…
Quero
ser engolido por ti, num texto alucinante, elocubrante.
Desejo
viver igual a uma ilha, cercado de tudo.
De
seres, de teres, objetos, homens, mulheres, cama e frio.
Quero
a palavra mais certa no espaço certo para alguém perfeito.
Quero
ser córrego, igarapé, rio, regato.
Quero
escrever, sentir, amar.
Seduz-me
então para cada vez mais te descobrir.
Mas
quero te dizer que sou ilha diante de ti.
Palavra
sábia, palavra parida de palavras, palavra mágica.
Em
tudo há palavra, significantes e significados.
Quando
se esvai, solidão do meu poema.
Quando
vem, certeza de me tornar ilha.
Nilson
Ericeira
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