Ainda
hoje lembro com saudade como era a nossa casa na Rua da Franca, em Arari.
Éramos
bem pobrezinhos, mas muito felizes!
Imaginando
como num terreno quadrado, com cômodos tradicionais da época.
Imagino-me
entrando nela agora, sala grande, onde meu pai colocava o tabuleiro e
ferramentas de sapateiro, salinha como uma porta de entrada, com o retrato de
Santa Luzia nos vigiando, cozinha, com um janelão para o quintal, onde sobrava
brisa fria do Rio Mearim, quarto e quartinho, no lado de frente para a rua,
onde tinha uma janela em que espiávamos os clientes entrando no comércio de seu
Dico Prazer.
De
longe sentiam o cheiro de cola ou ouvia o tilintar do martelo do meu querido e
saudoso pai. Bate ferro, corta bico!
As
porta e janelas, todas fechadas com meançaba, havia uma maromba no lado de dona
Cotinha (uma senhora digna e honrada, esposa de seu Aprígio) e um oitão de palha do mesmo lado, com uma janela
desse mesmo lado no quarto. Nessa janela eu e meus irmãos passávamos à boemia
num espelho velho de vidro.
O
quintal à noite, por vezes metia medo, além da brisa fria, corriam vultos da
nossa imaginação. O porto de seu Dico, dava margens a passos e passadas… Por
vezes escutávamos só a voz no escuro. No porto, além de canôas, encostavam
também muitas lanchas. Era bom demais!
A
frente da nossa casa levara anos destapada e quando ainda nem se embelezara da completude
da obra, veio a cheia de 1974 e colocou paredes abaixo, deixando a ‘marca da
enchente’. Nome que rendera alguns apelidos a amigos dessa época.
No
chão, mal acabado, com aqueles relevos feitos pelos próprios pés. A parte da
cozinha era a mais úmida.
Nas
paredes, gaiolas e tarrafas adornavam a estética. Vez ou outra minha mãe punha
roupa no varal. No que não era muito acolhida por meu velho pai.
Na
cozinha do lembro do fogão à lenha com umas ‘tabuinhas’ no canto para as latas
mais preciosas que davam sabor ao café e aliviavam a fome dos meninos com
farinha posta.
Quem,
desse tempo, não sobrelevou e pois farinha dentro da lata de açúcar, à revelia
dos pais?
Durante
dia, sempre éramos despertados com a buzina da escola Prefeita Justina
Fernandes, onde estudávamos. Além disso, a gritaria da meninada.
No
meio do quintal havia uma baixa, onde meu pai tirou terra para aterrar a nossa casa,
ali havíamos que passar todos os dias. Por vezes à noite metia muito medo.
Era
uma casa de três portas: duas de frente para o comércio do velho Dico Prazer,
onde as ovelhas ficavam durante o dia, após passearem pelas ruas de Arari, e uma
porta do lado do porto, de frente para a casa de dona Leonor.
No
canto desse mesmo lado, meu pai colocara um tronco de madeira que mais tarde
fora batizado como ‘pau da paciência’. Dali o meninos da Franca e adjacências
contavam suas mais belas estórias. À noite, a meninada administrava para suas brincadeiras
de infância.
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