Ócio e Néscio, o álter ego no mundo da fantasia

Desde que apareceram para o mundo real, Ócio e Néscio já
vieram várias aventuras, já taparam os olhos da vaca banda de ubre no caminho
do lago da morte, e imitaram Pantaleão e confirmaram suas mentiras com Terta,
já viram disco voador e morreram de medo da onça de Juca Leite!

Eu vou, eu vou, para floresta agora eu vou…

Mas as aventuras não pararam por aí, um dia desse, começaram
a desenvolver suas habilidades para marqueteiros, uma vez que veem um bom
mercado pela frente, até mesmo porque sabem que poder ocupar cargo público e
vender peças publicitárias, para tanto já produzem peças, outdoor, busdoor,
 ‘bicicletadoor’, carroçadoor, ‘caçambadoor’, e
outros apetrechos que vão tão alto quanto suas ganâncias.

Iguais a Justo Veríssimo, personagem de Chico Anísio, Ócio e Néscio não
escondem para ninguém que querem é se dá bem.

–Eu vou para onde o dinheiro vai, já até comprei uma
bussola, pois onde tiver grana, lá estarei, disse o irmão mais velho de Néscio.

— Mermão o mundo dos sabidos, não ver aquele lá que só a
mulher dele passou 40 e poucos anos na sala do reino, sempre dando as fichas!
Tadinha!

— É mermão, o homem não é besta não, senão à toa, esta volta
e meia com as novinhas!

— Rapaz, não entra nesse tipo de coisa, boca calada não
entra mosca, a gente ver e faz que não ver!

— Tu tem o nariz grande e é abelhudo! O homem é um bom
articulista, ou melhor, articula-dor. Tá até trocando de vestes pela manhã,
pela tarde e á noite quando vai gatear.

— Gatear? Garrotear? Essas palavras existem?

— Se não existiam, agora existem.

— Mas pensando bem, até que não foi mal, abelhudo vem de
abelha, abelha bota mel, o meu pode ser vendido, a troca ou escambo representa
dinheiro! Tou dentro desse negócio.

Preocupados com a nova carreira, entre os negócios paralelos que desenvolvem com
o os influentes do poder, Ócio e Néscio andaram pela polis pedindo informações
sobre o novo ramo. Peças, marcas, inserções, mídias e mídias. Até invocaram Eduardo
Galeano! Ula, lá, lá! E, mais, o que a Veja disse, o que a Isto é disse, o que
a manchete disse, o que a época disse…

Parari, parará!

Comunicação, mas média, banneres, jornalismos, locu-tor,
ator, atriz, mídia social, tempo, ação, gravando!

A aranha arranha a jarra ou a jarra arranha a aranha, telepatia
ou a tia de Pelé… Conhaque de alcatrão, catraca de canhão…

“Mas alto, assim não, olha os gestos, não soletra, fala tudo
de uma vez, faz mil vezes as mesmas coisas. Um dia tu chega lá”. (E assim
seguiu o ensaio na oficina do besteirol)

A galinha pintadinha bota ovo quando quer, o galo carijó está
sempre ao seu redor. Mas quando bota o ovo logo todo o galinheiro fica sabendo.

— Bicho tu tá esperto, a galinha bota o ovo e mundo todo
sabe! É isso, tenho até inveja delas, pois fazem publicidades de seus produtos
e ainda nos dão aula, disse Néscio.

— Vou te internar, ave-Maria, disse Ócio, pois andou lendo O
Alienista e sabe que ele tem uma patologia… Fique esperto, pois todos temos
algum defeito e no menor possível, mando te jogar lá.

— Pato o quê?

— Lá vem tu com outra piada, pode ser agora o ovo da pata! Retrucou
Ócio,

— Vamos ter mesmo que te recolher à Casa da Conciliação,
pois tu não anda falando coisa com coisa.

Andaram e discutiram como se fossem realmente brigar, ainda
deram-se uns dois empurrões. Quando eis que de repente, Ócio arregalou os olhos
e disse:

— E dona Miucinha da Silva, não nos ajuda?

— Não ajuda, é época de eleição, mas agora a estória é outra!
Alardeou Néscio.

— Então vamos falar com ela e cobrar nossos favores e votos.
Pode ser que lá debaixo daquele pé de amêndoa, ela nos dês uma orientação.

— Orientação, eu quero é grana!

Lá em casa tem um pé de jacarandá! Onde eu mandar? Tudo que
vai e vem…

Assim, Ócio e Néscio estão buscando novas possibilidades de
se darem bem na vida, mesmo que seja vendendo serviços do que não entendem. Afinal,
o mundo é dos espertos.