Prezado amigo
Carta a uma amigo VI
Objetivo destas poucas linhas é saber como vão todos aí na nossa cidadezinha, ao mesmo tempo que envio-lhe notícias minhas.
Mas também saber como estão as coisas de uma maneira geral. Os meninos da rua, as nossas brincadeiras, as voltas de bicicleta, a pelada na lama da beira do rio, os pulos da barreira, a maré… Ah amigo, se eu pudesse estaria aí novamente, mas a luta aqui é grande. Chego tarde e saio bem cedinho para o serviço.
Lá, lavo banheiros, dou recado, limpo mesas, sirvo cafezinho e água e fico o tempo inteiro esperando uma nova atividade. Até que está sendo bom, mas o ruim é que o salário atrasa em até três meses. Ainda bem que fiz amigos por lá, só para você ter uma ideia, tem umas senhoras na cantina que todos os dias me dão café com pão. Mas sei que é só um momento necessário para a minha formação.
Seus pais estão bem? E os seus irmãos? Como estão todos daí?
Você já está indo para escola grande que sai confronte a igreja? Fale-me de tudo. Não se esqueça de nada.
E as pescarias de litro?
Saiba que vou fazer tudo para num feriado desses pegar o ônibus com destino a nossa terrinha. Aí, então, nos encontraremos e daremos longas e gostosas risadas.
Saiba que você é um dos seres humanos mais especiais que conheço. Obrigado por ser meu amigo. Mas lembrei que começamos a nossa amizade numa briga na rua. Nos rolamos pelo capim da porta de Chico Manga Dura, e foi preciso ter gente para desapartar. Confesso que não via a hora da briga acabar.
E acabou, cada foi para sua casa, e daí em diante começamos a nos respeitar e amar.
A vida nos apronta cada uma, mas me espere para jogar bola e nos divertirmos.
Bom de drible e chute como você é não vamos perder nenhuma.
Abraços do amigo de sempre.
Nilson Ericeira
(Dário, Robrielle ou Nilsinho)
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