Pode deixar, eu compreendo

Pode deixar, eu compreendo

Que o interesse por coisas e pessoas mais interessantes tenham prevalecido

Que o amor que dizia sentir esvaísse por aí…

Que a distância seja sempre a desculpa e o tempo, um pretexto

Que mesmo que lá no fundo o teu coração não dissimule, é preciso dissimular aqui fora

Pois a vida também se faz de aparências, ainda que com sangrias

Que o teu corpo rígido e frio travistam-se como se o tempo não passasse

Pois é necessário aparentar que está tudo bem o tempo inteiro

Afinal, o amor não se afere em cifras e posses

Mas eu sei que lá no fundo, o teu coração não emudece

Pois o que se sente não se pode omitir ou mentir

E mentir para se mesmo é automutilar-se

Pode deixar, eu compreendo

É que aos poucos fui aprendendo a me virar sozinho

Trançado diálogos comigo mesmo e montando os meus cenários

Ainda que em todas as coisas eu busque a tua essência

E está aqui, no melhor dos cenários: no meu coração        

Portanto, exala, perfuma, madurece, vai e volta

Ainda bem, mas pode deixar, eu compreendo

Nilson Ericeira